André Gorz

André e Dorine

Nascido Gerhart Hirsch, era filho de um comerciante de madeira vienense, de origem judaica, e de uma secretária católica, oriunda de um ambiente intelectual. Seus pais não demonstravam um forte sentimento de identidade nacional ou religiosa, de forma que, para escapar do anti-semitismo, seu pai converteu-se ao Catolicismo, em 1930, adotando o sobrenome Horst.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, sua mãe mandou-o para uma instituição em Suíça, para evitar sua convocação pelo exército alemão. Depois disso, o jovem Gerhart permaneceu apátrida até 1957, quando se naturalizou francês com o apoio de Pierre Mendès France. Em 1945 graduou-se na Escola de Engenheiros da Universidade de Lausanne, como engenheiro químico.

Começou a trabalhar como tradutor de histórias curtas americanas para um editor suíço, fazendo publicar seu primeiro artigo em um jornal cooperativo. Em 1946 ele conheceu Jean-Paul Sartre, de quem se tornou próximo. Então, sofreu grande influência do existencialismo e da fenomenologia. Gorz contribuiu para os jornais Les Temps Modernes (Paris) e para o Technologie und Politik (Reinbek).

Em junho de 1949 Gorz mudou-se para Paris, onde começou trabalhando com o secretariado internacional do Mouvement des Citoyens du Monde e depois como secretario particular de uma adido militar da embaixada da Índia. Posteriormente, como jornalista da Paris-Presse, adotou o pseudônimo de Michel Bosquet. Encontrou-se, ali, com Jean-Jacques Servan-Schreiber, que o recrutou como jornalista econômico para o L'Express, em 1955.

Em paralelo com suas atividades jornalísticas, ele continuou próximo de Sartre e adotou uma postura existencialista sobre o Marxismo, o levando a enfatizar as questões da alienação e da libertação, no conjunto da reflexão sobre a experiência existencial e a análise do sistema social do ponto de vista da experiência individual. Esses debates intelectuais formaram a base de seus primeiros livros, Le Traître (Le Seuil, 1958, prefaciado por Sartre), La Morale de l'histoire (Le Seuil, 1959) e Fondements pour une morale (Galilée, 1977), publicado quinze anos depois de escrito. Todos foram assinados como André Gorz, pseudônimo escolhido a partir do nome da cidade onde foram feitos os óculos dados ao seu pai pelo exército austríaco. 

Gorz tornou-se um teórico importante do movimento da Nova Esquerda (New Left), inspirado no jovem Marx, em discussões sobre humanismo e alienação e a liberação da humanidade. Gorz foi influenciado, também, pela Escola de Frankfurt, sendo amigo de Herbert Marcuse. Outros amigos que passaram por sua casa são Rossana Rossanda, fundadora do jornal Il Manifesto, o fotógrafo William Klein e jovens intelectuais como Marc Kravetz e Tiennot Grumbach.

Gorz foi um forte crítico do Estruturalismo, por causa de suas críticas ao subjetivo e à subjetividade. Ele se nomeou um "revolucionário-reformista", um democrata socialista que esperava ver reformas que alterassem o sistema. Em 1961, ele entrou para a comissão editorial do Les Temps Modernes, introduzindo na França o italiano Garavini, o neo-keynesianismo, o comunista Bruno Trentin e o anarco-sindicalista Vittorio Foa. Impondo-se como líder intelectual da tendência Italiana da Nova Esquerda, ele influenciou os ativistas da união de estudantes (UNEF) e membros da CFDT (em particular Jean Auger, Mochel Roland e Fredo Krumnow) com a teoria da auto-gestão operária.

Manifestou-se diretamente aos sindicatos em Stratégie ouvrière et néocapitalisme (Le Seuil, 1964), onde criticou o crescimento econômico capitalista e expôs varias estratégias para os sindicatos. No mesmo ano, ele saiu do L'Express para fundar, junto com Serge Lafaurie, Jacques-Laurent Bost, K. S. Karol e Jean Daniel, a revista Le Nouvel Observateur (usando o pseudônimo de Michel Bosquet).

Profundamente afetado pelo Maio de 1968, Gorz enxergou nesses eventos a confirmação de sua postura marxista-existencialista, que junto as críticas dos estudantes contra as instituições e as organizações do Estado (Estado, escola, família, empresas). Depois disso, debruçou-se sobre a teoria de Ivan Illich sobre educação, medicina e a abolição do trabalho (enquanto relação de emprego). Em 1961 publicou um discurso de Illich no Les Temps Modernes, antes de o conhecer em 1971 na Le Nouvel Observateur quando publicou Deschooling Society (Une Société sans école). Depois Gorz publicou um resumo sobre Tools for Conviviality (1973) de Illich, sob o título Libérer L'avenir (Futuro Livre), e aprofundou sua relação com o pensador durante uma jornada na Califórnia em 1974, quando escreveu uma série de artigos para o Le Nouvel Observateur.

O desenvolvimento dos pensamentos políticos e filosóficos de André Gorz o levou à ruptura com seus colaboradores no "Le Temps Modernes", do qual possuía responsabilidade editorial desde 1969. 

Em Abril de 1970 seu artigo "Destruindo a Universidade (Détruire l'Université)" provocou a renúncia de Pontalis e Pingeaud. Gorz também criticou a tendência maoista presente no jornal desde 1971, que era apoiada por Sartre. Finalmente, Gorz renunciou em 1974 do "Les Temps Modernes", em seguida às divergências sobre um artigo sobre o grupo autonomista italiano "Lotta Continua". A ruptura com Sartre levou Gorz a novas reflexões. Ao mesmo tampo, ele foi afastado da análise econômica no "Le Nouvel Observateur", sendo substituído por economistas mais clássicos. A razão dada para esse afastamento concerne a sua campanha contra a indústria nuclear, que levou a EDF, a empresa elétrica estatal, a retirar anúncios na revista.

Nesses tempos, Gorz tornou-se uma liderança da ecologia política, tendo suas ideias publicadas - em particular - pelo jornal ecologista "Le Sauvage", fundado por Alain Hervé (o criador da seção francesa dos "Friends of Earth"). Em 1975, publicou "Ecologie et politique" (Galilée, 1975), que incluía o ensaio "Ecologie et liberté", segundo Farançoise Gollian um dos textos fundamentais da problemática ecológica. Seu pensamento nessa área fortaleceu-se após sua utilização nos relatório de 1972 "Limits to Growth", do "Club of Rome".

Gorz foi influenciado, ainda, por Luis Dumont, passando a considerar o liberalismo e o Marxismo duas versões de um mesmo pensamento econômico. Gorz colocou-se na oposição, então, ao individualismo hedonista, ao utilitarismo, ao materialismo e ao coletivismo produtivo, defendendo uma versão humanista da ecologia em oposição à ecologia radical. A ecologia de Gorz, de qualquer maneira, permaneceu ligada à critica ao Capitalismo, que ele chamou de uma "ecológica, social e cultural revolução que deseja abolir os constrangimentos do Capitalismo".Em 1980, André Gorz rompeu com várias correntes as quais estava ligado. Primeiro, deixou de colaborar com "Les Temps Modernes" depois da morte de Sartre nesse mesmo ano. Então, passou à crítica ao marxismo em "Les Chemins du paradis" (Galilée, 1983). Finalmente, rompeu com os movimentos pacifistas em 1983 quando se negou a opor-se à instalação dos mísseis Pershing II pelos Estados Unidos na Alemanha Ocidental. Ainda em 1983, Gorz retirou-se do "Le Nouvel Observateur".

Entre 1990 e 2007, o jornal "Multitudes", próximo de Toni Negri (que recomendou o livro "Misères du présent, richesse du possible"), a "EcoRev'" e "Entropia" publicaram seus artigos. Gorz estudou, particularmente em "Métamorphoses du travail" (Galilée, 1988), como o capitalismo passou a requerer investimentos de capacidades humanas. Gorz passou, ainda, a defender uma Renda Básica de Garantia independente do trabalho.

André Gorz suicidou-se no dia 24 de setembro de 2007, aos 84 anos, porque sua mulher, Doriane, estava acometida de doença incurável, e segundo o próprio Gorz, não seria possível para ele viver um segundo sequer nesse mundo sem a presença e a companhia de sua amada.

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